A máquina parou

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Era tudo muito fácil, claro. O carro chegou e dentro dele havia poltronas exatamente iguais às dela. Assim que ela fez um sinal, o carro parou e ela cambaleou até o elevador. Havia um outro passageiro no elevador, o primeiro semelhante com quem se encontrava ao vivo em meses. Pouca gente viajava naqueles dias já que, graças à ciência, a Terra era exatamente igual por toda parte. Os relacionamentos inesperados, nos quais a civilização havia despontado tantas esperanças no passado, tinham desaparecido. De que adiantava ir a Pequim quando tudo era igual a Shewsbury? Por que regressar a Shewsbury se tudo era exatamente igual a Pequim? As pessoas raramente morriam, seus corpos, toda a agitação estava confinada à alma. 

[…]

O dia e a noite, ventos e tempestades, mares e terremotos, não mais eram obstáculos para o ser humano, que se transformara em Leviatã. Toda a velha literatura, com seu culto à Natureza e seu medo da Natureza, soava agora tão falsa quanto tagarelice de crianças.

A máquina parou, de E. M. Forster. Tradução de Teixeira Coelho (Iluminuras)

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