Querido diário, ontem, na tentativa de voltarmos para casa depois de um almoço agradável, fomos tomar café na casa de um amigo que estava por perto. O som dos batuques e metais se aproximava. Fomos para a varanda e nos deparamos com uma multidão cheia de glitter fechando o cruzamento das ruas. Nossa partida precisou ser adiada.
Quando a multidão seguiu ladeira acima nos despedimos e descemos a rua na tentativa de chegarmos a casa. Porém, no meio do caminho, sempre lá, tinha outro bloco. Pessoas acumulando glitter por seus corpos, com suas fantasias genéricas e idênticas umas às outras. Talvez não tivessem tido tempo de planejar algo mais elaborado. Talvez só quisessem sair e beber e encontrar pessoas no meio da rua na energia caótica que é o Carnaval.
Dançamos, cantamos, nos sentamos, esperamos o bloco andar para que pudéssemos andar também. Esperamos e esperamos. Encontramos conhecidos e amigos, uns iam para o bloco, outros, também tentavam voltar para casa. Não teve jeito, vestimos nossa fantasia de “ainda estamos numa pandemia?” e, dançando, pedimos passagem. As pessoas foram gentis, apesar de terem nos achado estranhos com nossos trajes, mas o comentário mais surpreso foi o de uma mulher que, vendo que um pai atravessava a multidão carregando a criança sentada nos ombros, exclamou como se visse algo pela primeira vez: “Uma criança!”.