Por favor, cuide da mamãe

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Em junho passado, perguntei no instagram qual deveria ser minha próxima leitura em e-book. Dentre as quatro opções que deixei lá, a mais votada foi Por favor, cuide da mamãe (Intrínseca, 2012, tradução de Flávia Rössler), da sul-coreana Kyung-Sook Shin.

Não me lembro quando comprei o livro. Provavelmente em alguma promoção. Meu interesse por ele surgiu quando vi sendo comentado nas redes, muitas pessoas que sigo estavam falando dele (influenciada, eu?), mas acabei não lendo imediatamente. Ele estava na imensa biblioteca digital, me rondando. 

O livro fala do desaparecimento de uma mulher idosa, Soon-yo, em uma estação de metrô de Seul. É uma mulher que mora no interior e vai com frequência à capital para visitar os filhos. Ela está sempre acompanhada, ou de um dos filhos ou do marido. 

A história é contada por um narrador que fala diretamente com as personagens, como se estivesse dentro de suas mentes. Em cada capítulo, conhecemos uma perspectiva das relações que alguns dos filhos e o marido têm com Soon-yo. Como a enxergam, o que sabem dela enquanto fazem o que podem para encontrá-la. Seguem as pistas das informações que recebem, relembram o passado e quem eram naqueles lugares.

No último capítulo é a própria Soon-yo que fala. Não só com os personagens que aparecem nos capítulos anteriores, mas com outros, desconhecidos ou desconsiderados por eles. 

Somente depois que Mamãe sumiu você percebeu que as histórias dela estavam acumuladas dentro de você e eram intermináveis. A vida cotidiana de Mamãe costumava seguir um círculo repetitivo, sem interrupção. As palavras do dia a dia de Mamãe, sobre as quais você não refletia muito e às vezes descartava como inúteis quando ela estava com você, despertaram em seu coração, criando torrentes irresistíveis.

Iniciei a leitura animada para conhecer uma escritora que nunca tinha lido. Foi minha companhia durante algumas noites, antes de dormir. O engraçado é que, quando o final se aproximava, eu já não esperava chegar a noite para retomar a leitura, lia durante o dia mesmo. Realmente me prendeu. 

A leitura foi muito prazerosa, e reflexiva também (gosto assim!). Pensei na minha relação com minha mãe, e minha relação com meu filho. Parece que tem um vácuo. Por ser a única responsável por mim durante tanto tempo, um tempo em que eu não era capaz de cuidar de mim mesma, não conheço certos aspectos da vida da minha mãe. E é um choque pensar nela apenas por esse aspecto, de cuidadora de uma criança. Por outro lado, hoje, adulta, reconheço e valorizo outros aspectos de sua vida, sua independência e jovialidade. E isso não apareceu agora, sempre esteve lá, mas eu era criança e não via as complexidades da vida adulta. 

Agora, sendo eu mãe, responsável por um pequeno ser humano (e, diferente da minha mãe, não sou a única responsável por ele), penso quais serão as memórias que meu filho vai ter de mim. Como ele vai entender as coisas que faço e digo? Será que ele só vai se lembrar de como insisto para que guarde os brinquedos, ou que não o deixo comer doces à noite? Talvez eu saiba no futuro.

No fim da leitura, percebi que a sensação que me acompanhou — e acho que essa era a ideia — foi a de desespero. O que é curioso, porque a leitura é tão tranquila que é uma sensação que nos cerca, e quando percebemos, a tensão já tomou conta. Não saber o que aconteceu com quem cuidou de você que é tão próximo, aparentemente, alguém que sabe de como você gosta das coisas, como se comporta em situações específicas é desolador. 


Todos estavam aos poucos se transformando no filho, filha e marido cuja mãe e esposa tinha sumido. Mesmo sem Mamãe, o dia a dia continuava.
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