Tenho duas amigas inseparáveis, se é que posso chamá-las assim já que nossa relação é um tanto violenta. Vou chamá-las de Uma e Outra para respeitar a privacidade delas.
Uma bate aqui em casa dia sim, Outra também. Outra, às vezes, leva umas semanas para aparecer, mas sabe aquela criatura que marca presença?
Engraçado que Uma já é tão íntima que é quase uma irmã, nem me lembro de quando a conheci porque tenho a sensação de que ela sempre esteve comigo. Tem hora que me esqueço um pouco dela, provavelmente porque dorme em algum canto e acabo só me dando conta de sua presença quando ela ronca, um ronco alto, então me lembro de que ela está sempre — isso mesmo, sempre — por perto.
Outra eu conheci lá pela adolescência. É uma criatura inconveniente. Invade, ocupa, preenche todos os espaços e, antes de ir embora, suga meus pensamentos e minha energia. Não consigo pensar com ela por perto e não consigo mandá-la embora. Até que tomamos chá e conseguimos passar um tempo juntas sem querer nos matarmos.
Ontem, Uma e eu tivemos uma conversa séria. Chorei, chorei muito. Ela foi cruel comigo, nunca tinha sido tão cruel assim. Outra mandou mensagem e deve aparecer pelos próximos dias. Ficaremos as três juntas e eu não vejo a hora desse encontro acabar logo.