Ketchup

Compartilhe:

Querido diário, tem um pote de ketchup na geladeira. Quase nunca tem essa iguaria em casa. Confesso que não sou muito chegada. Acho um desperdício, porque quase ninguém usa, a coisa fica lá fazendo aniversário e acaba estragando. Há uns dias, abri a geladeira e dei de cara com aquele pote de ketchup. Veio uma lembrança tão distante do meu querido amigo que foi embora em abril. No período em que fazíamos a pós almoçávamos juntos, às vezes.

Um dia fomos em grupo para um self-service perto do campus. Ele colocou no prato: espaguete, batata frita e nuggets. Depois pegou todos os sachês de ketchup na mesa e espalhou sobre o macarrão. Eu e os outros olhamos assustados para aquele prato que parecia de criança que acabou de descobrir que é divertido espalhar aquele creme vermelho sobre a comida, como se alguém tivesse perdido um dedo para cozinhar. Fechei a geladeira e sorri. Sorri por me lembrar de algo que, provavelmente, já estava dentro de alguma gaveta da minha mente. Sorri por abrir essa gaveta sem querer e me lembrar de ter convivido com alguém tão querido. Sorri por ser uma lembrança tão boba quanto ele era. Depois chorei. Chorei por ele ter ido embora tão cedo, sem que tivéssemos tido a chance de um reencontro; sem que eu pudesse lhe dizer tchau.

É estranho pensar que alguém que costumava existir não existe mais, mesmo que o contato tenha diminuído com o tempo. O ketchup ainda está na geladeira; ainda não fez aniversário e acho que vou procurar uma receita na internet para poder usá-lo em maior quantidade.

Compartilhe: