Houve um tempo em que acreditei não saber mais escrever com a caneta. Encontrei um caderno antigo, o caderno das aflições. Pequeno, espiral e capa dura. Passei meses escrevendo nele a respeito de alimentação. Junto com a comida, quantidade, textura etc., vinham pensamentos.
O caderno tem cinco anos. Algumas angústias não mudaram, como a insegurança em relação à escrita. Outro dia, ao fazer o cadastro na biblioteca hesitei – mais uma vez – em me denominar escritora. Desde aquela época, desde antes até, escrevia no caderno que “não sei escrever…” ou “não tenho história…” e blá blá blá.
Aquele foi um período difícil. Meu corpo e minha vida mudaram radicalmente. Eu precisava dar conta de algo que me julgava incapaz. O tempo tem mostrado que sou capaz, sim.
Encontrei uma anotação de quando decidi criar a newsletter. Ideias para o que gostaria de escrever, nomes que pensei em usar, com que frequência enviaria. É engraçado como, ao virar as páginas, ocorra uma mudança de humor em que a aflição muda para a expectativa de estar fazendo algo bacana.
Foi uma bonita lembrança.