Havia algo misturado na comida. Engoli. Era um objeto estranho. Não surtei ainda. Talvez eu sonhe, mais tarde, que minhas veias estão sendo rasgadas pelo tal objeto que navega por elas. Faz um rasgo fino. O suficiente para eu sangrar internamente e morrer bem devagar. Vai me deixar paralisada. É um jeito assustador de morrer.
Prefiro uma morte rápida. Tenho pensado nisso. Morro de medo de hospitais. Morro de medo ir a um médico. Dentista, então? Sinto um arrepio só de ter de ir até a farmácia. Acabo entrando lá quando me lembro de me pesar. Geralmente, isso acontece quando volto do mercado com algumas sacolas.
Tenho outras coisas para fazer. Mas, espera, não era disso que eu estava falando.
Ah, sim, o objeto estranho que estava na comida e escorregou pela minha garganta. Estou respirando, sim. Vou passar dias imaginando o que vai acontecer comigo, com esse objeto desconhecido dentro do meu corpo. A rejeição que ele sofrerá e a dor que sentirei. Cuspi um pouco da comida, mas já não havia o que identificar.
Acho que engoli um objeto estranho e, talvez hoje, eu não consiga dormir.