Na noite de catorze de março de dois mil e dezoito eu estava em casa, sentada no sofá da sala amamentando meu filho assistindo a alguma bobagem na televisão. A sala estava escura. O pequeno quase dormindo. Peguei o celular esticando o braço que estava livre. Abri o twitter. Depois de rolar a tela algumas vezes uma pessoa escreveu que a vereadora em quem votei estava morta. As primeiras notícias falavam em assalto. Fiquei em choque. Que cidade absurda! A cidade pela qual ela trabalhava para melhorar fez isso com ela. Nem dez minutos depois, ainda sem acreditar, a hipótese de assalto foi descartada nas notícias que pipocavam na minha tela. Execução. Meu filho já dormia. A sala ainda escura. E eu comecei a chorar.
Nas eleições municipais de dois mil e dezesseis, escolhi uma candidata à vereadora. Uma semana antes do pleito, passando pela feira da Lavradio um grupo de candidatos se aproxima, entregam panfletos, conversam, tiram fotos. Uma mulher negra, de cabelos curtos, sorridente me entregou um panfleto com sua foto e seus projetos. Ao chegar em casa li. Mudei, meu voto seria para ela. E foi. E ela foi eleita como a quinta vereadora mais votada da cidade. Fiquei orgulhosa mesmo que o resultado para o executivo municipal tenha sido terrível. Havia esperança. Pela primeira vez, me senti representada. Ela conversava com as necessidades que eu acreditava — e ainda acredito — para a cidade, as mudanças necessárias.
No dia seguinte, levei meu filho para a creche. Saí de lá em direção à Cinelândia. Uma multidão estava reunida na grande praça, diante da câmara dos vereadores, esperando os corpos de Marielle e Anderson — o motorista que a acompanhava e também foi executado. Encontrei muitos amigos. A dor tomou o lugar em nossos cumprimentos. Apenas nos abraçávamos e chorávamos. A multidão reunida naquela praça, ficou em silêncio por tanto tempo. Só conseguíamos chorar, porque eram os nossos. Mataram uma vereadora em seu primeiro mandato e, cinco anos depois, ainda esperamos por respostas.
Quem mandou matar Marielle?