No meio da tarde, procurava algo para assistir na televisão. Entre as opções que apareciam, cada vez que eu apertava o botão do controle remoto, estavam filmes de ação, de alienígenas, programa policialesco, culinária, mesa redonda com meia dúzia de homens discutindo futebol de homens. Paro, volto para o canal de comidas. Uma mulher jovem e feliz caminha por uma estrada de terra. Em seguida, encontra outra mulher, mais velha, a dona da fazenda que lhe mostra a cozinha onde farão juntas uma receita tradicional. Utensílios à mão, ingredientes separados. Carne de porco, ervas, páprica, cachaça. Usam cooktop, mesmo com o fogão à lenha aceso. Deve ser para deixar o cenário mais charmoso. Tudo lindamente arrumado. As mulheres riem. O prato parece bom. Quase consigo sentir o cheiro, não da carne. O cheiro da broa de milho que minha avó fazia no seu forno à lenha. Não em uma fazenda, em uma casa no subúrbio. Tradição que ela trouxe do interior para cá. Eu costumava passar as tardes naquele quintal, perto do fogão. Desligo a tevê. Pego um caderno antigo guardado há tempos na gaveta. Encontro a receita que minha avó me ditou quando eu tinha nove anos. Decido ir até o mercado comprar o que falta para fazer uma broa de milho no meu fogão elétrico.
A Toranja, uma newsletter com exercícios criativos, trouxe um desafio de escrita para o mês de outubro e eu resolvi me arriscar. Uma palavra para cada dia e um texto de até 250 palavras. Estou compartilhando todos os dias no Instagram do Atrás da porta (e em outras redes minhas) e é claro que o blog não poderia ficar de fora.