Chegaram moradores novos na casa ao lado. Família grande. Dava para saber por causa da barulheira das crianças. Depois de um mês é que realmente vi quem e quantos eram. A mangueira começou a dar frutos, e alguns caíram do meu lado do muro. Fui falar com o vizinho. Era um homem bonito, gentil e atencioso com os filhos que vinham interromper nossa conversa a cada dois minutos. Invejei o jardim tão bem cuidado. Os moradores anteriores não gostavam de cuidar. Já estava para ir embora quando a mulher apareceu na porta, grávida do quarto filho deles, que devia nascer em breve. Ela acenou, acenei de volta e me despedi. Passei a espiar a família. Quando o vizinho aparecia, eu puxava assunto. As conversas ficaram mais longas. Ele até passou a vir me ver quando eu não ia encontrá-lo. Sentávamos nas minhas cadeiras de palha do quintal e bebíamos café, que a mulher dele proibia. O barulho das crianças diminuiu, agora o que se ouvia com frequência eram as brigas. Até isso acabou. O vizinho ficou um tempo sem sair de casa. A mulher foi embora com as crianças, o jardim morreu, e só ficou o silêncio.
A Toranja, uma newsletter com exercícios criativos, trouxe um desafio de escrita para o mês de outubro e eu resolvi me arriscar. Uma palavra para cada dia e um texto de até 250 palavras. Estou compartilhando todos os dias no Instagram do Atrás da porta (e em outras redes minhas) e é claro que o blog não poderia ficar de fora.