Ele me disse que era artista. Pediu um chope para nós dois. A conversa fluiu. Falei que também já quis ser artista, mas preciso ajudar meus pais idosos e deixei o sonho de lado. Ele disse que eu tinha talento, que já me via realizando grandes coisas, recebendo prêmios num futuro próximo. Fiquei corada e sorri, constrangida. Pedi mais um chope para nós. Falou das combinações de cores, dos girassóis e até dos modernistas. Disse que mora no estúdio, no centro, que vai me mostrar suas telas inacabadas, seus pincéis gastos, o lugar onde guarda as tintas. Pedimos mais um chope. Levantamos as mãos ao mesmo tempo. Ele pediu uma porção de gurjão de frango e outra de batata frita. Não perguntou no que trabalho e falou de como se inspira observando corpos nus femininos, dos museus que uma garota como eu precisava conhecer. O garçom se aproximou trazendo os petiscos. O pintor foi ríspido. O garçom desculpou-se. Falei que a comida chegou em boa hora. Afastei minha mão, disse que precisava ir ao banheiro. Quando voltei, observei o pintor ao longe sendo ríspido, mais uma vez, com o mesmo garçom. Fui até o balcão e pedi a conta. Paguei minha parte. Voltei para a mesa, peguei a bolsa e me despedi dizendo que tinha de trabalhar cedo. Ele beijou minha mão, disse que o destino nos reuniria novamente. Eu disse que já tinha pago os três chopes que bebi e fui embora.
A Toranja, uma newsletter com exercícios criativos, trouxe um desafio de escrita para o mês de outubro e eu resolvi me arriscar. Uma palavra para cada dia e um texto de até 250 palavras. Estou compartilhando todos os dias no Instagram do Atrás da porta (e em outras redes minhas) e é claro que o blog não poderia ficar de fora.