Portaria

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Alguém largou dois cachorrinhos na portaria do prédio de madrugada. Pela manhã, estava tudo imundo. Os bichinhos acordaram os moradores com seus  gemidos de fome. O porteiro chegou e já foi todo mundo para cima dele. Chamaram a síndica. Precisavam das imagens para saber quem era o energúmeno capaz de tanta maldade. Uma mulher de voz estridente falou para chamarem a polícia enquanto ela levava os cachorros para casa. Ia dar água, comida e fazer campanha para adoção. A polícia chegou. Ouviu todo o bafafá, mas, sem as imagens foi embora. A portaria estava limpa, nem parecia a mesma da zona das sete da manhã. Os cachorros, agora  alimentados, brincavam na minúscula sala do 502. A síndica disse que não encontrou as imagens, parece que deu algum problema e nada ficou gravado. O porteiro saiu para o almoço. O sujeito do 704, um encrenqueiro, sobrinho-neto da síndica, apareceu querendo saber onde estavam os cachorros, como se nada tivesse acontecido. Disse que ia chamar a polícia se a mulher do 502 não devolvesse os bichinhos.


A Toranja, uma newsletter com exercícios criativos, trouxe um desafio de escrita para o mês de outubro e eu resolvi me arriscar. Uma palavra para cada dia e um texto de até 250 palavras. Estou compartilhando todos os dias no Instagram do Atrás da porta (e em outras redes minhas) e é claro que o blog não poderia ficar de fora.

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