Vela

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O falecido gostava de me impressionar. Minha mãe dizia para ele não me mimar tanto no namoro porque me tornaria uma esposa exigente. Ele não se importou. Nos fins de semana, eu recebia o café da manhã na cama. Caprichado, com frutas, torradas, ovos e café. Jantares românticos, à luz de vela, no meio da semana, depois do trabalho. Bilhetes colados na porta me desejando um bom dia e dizendo que me amava. Foram tantos anos assim. Quando veio a aposentadoria, fazíamos muitas coisas juntos. Como ir ao cinema nas tardes de segunda-feira. Depois da sessão, caminhávamos de mãos dadas pela calçada conversando sobre nossas impressões. Certo dia, num domingo, acordei e ele tomava café sozinho na cozinha. Na segunda, não quis me acompanhar ao cinema, mas insistiu para que eu fosse. Estava com dor de cabeça. Fui assim mesmo, sabendo que algo estava errado. Quando voltei, ele não estava, nem suas roupas, sapatos, malas, fotos. Não deixou rastro. Liguei para hospitais, para os amigos e nada. Fiquei anos sem resposta. Até ele aparecer na porta do cinema, carregando um buquê de rosas vermelhas, sorrindo para mim. Era como se o tempo não tivesse passado.


Toranja, uma newsletter com exercícios criativos, trouxe um desafio de escrita para o mês de outubro e eu resolvi me arriscar. Uma palavra para cada dia e um texto de até 250 palavras. Estou compartilhando todos os dias no Instagram do Atrás da porta (e em outras redes minhas) e é claro que o blog não poderia ficar de fora.

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