Xícara

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Choveu no domingo. Em dias assim, a xícara é solicitada com frequência. Começa o dia com café puro. Vai do armário para a pia, da pia para a mesa, onde se demora. É acompanhada por páginas de um livro e um prato com frutas. É uma xícara pequena, branca, com o nome de uma cidade sobre a flor em preto. O café acaba, ela vai para dentro da pia e ali também fica um tempo até alguém se lembrar dela. Não dela especificamente, mas do grupo que a acompanha. São visitantes, precisam retornar para o armário novo.

A xícara mudou-se para lá recentemente, junto com taças, talheres, potes de farinha, açúcar e café. É um lugar tranquilo e acolhedor. Esquece-se do tempo, e novamente retirada de seu lar. O aroma agora é outro, mas o líquido que a abraça é quente. É levada para outros cantos enquanto o perfume de hortelã se espalha pelos cômodos já conhecidos.

Desta vez o banho vem logo, o segundo do dia, e voltará para o armário. O destino prega peças, e ela não chegará em casa. Antes da porta se abrir uma queda, um barulho, um descuido, um acidente. Estilhaços brancos pelo chão. A flor preta desfeita. O nome da cidade em pedaços. Às pressas, seus restos são colocados sobre uma folha de jornal, embrulhada, fechada dentro de um saco plástico e levada para a lixeira do prédio.


A Toranja, uma newsletter com exercícios criativos, trouxe um desafio de escrita para o mês de outubro e eu resolvi me arriscar. Uma palavra para cada dia e um texto de até 250 palavras. Estou compartilhando todos os dias no Instagram do Atrás da porta (e em outras redes minhas) e é claro que o blog não poderia ficar de fora.

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