Todas as crianças passam por fases. Por quê – perguntou-se – apertando o queixo contra a cabeça de James, por que precisavam crescer tão depressa? Por que precisavam ir para a escola? Gostaria de ter sempre um bebê. Era a pessoa mais feliz do mundo quando carregava um bebê nos braços. Então, se quisessem, as pessoas até poderiam dizer que era tirânica, autoritária, dominadora, não se importava. E, tocando no cabelo de James com os lábios, pensou: ele nunca será tão feliz como agora – mas conteve-se, lembrando-se de como irritava o marido quando dizia isso. Contudo, era verdade. Nunca seriam tão felizes como agora. Um conjunto de chá de dez penies deixava Cam feliz por vários dias. Ouvia-os gritando e batendo os pés no andar superior, desde o instante em que acordavam. Chegavam alvoroçados pelo corredor. A porta se escancarava e eles entravam, orvalhados pelo ar da manhã, os olhos fixos, bem abertos, como se entrar na sala de jantar depois do café da manhã – o que faziam diariamente – constituísse para eles um acontecimento extraordinário; e assim por diante, com uma coisa ou outra, durante todo o dia, até que ela subia e lhes dizia boa-noite e os achava aninhados em suas caminhas, como passarinhos entre cerejas e amoras, ainda inventando estórias sobre alguma bagatela: algo que ouviram ou pegaram no jardim. Todos tinham seus pequenos tesouros… E assim descera e perguntara ao marido: por que precisavam crescer e perder tudo isso? Nunca seriam tão felizes como agora. E ele ficara zangado. Por que ter uma visão tão pessimista da vida? – dissera. Não é razoável. Pois era estranho; ela pensava, com toda a sua tristeza e desespero, que na verdade o marido era mais feliz, mais confiante do que ela. Menos exposto às aflições humanas – sim, talvez fosse isso. Ele sempre contava com o seu trabalho, ao qual podia recorrer. Não que ela fosse “pessimista”, como ele a acusava. Apenas pensava na vida – e um pequeno trecho desta se apresentou diante de seus olhos: seus cinquenta anos. Ali estava, diante dela: a vida. A vida, pensava, mas não terminava o pensamento. Olhou a vida de relance, pois a sentia nitidamente ali, algo real, íntimo, que não compartilhava com os filhos, nem com o marido. Existia uma certa troca entre elas, na qual ela ficava de um lado, e do outro a vida. E ela estava sempre tentando levar a melhor, tal como lhe era peculiar.
Ao Farol, de Virginia Woolf. Tradução de Luiza Lobo (Ediouro, 1993, p. 64-65).