A Revista Tamarina e o Coletivo Escreviventes se uniram para discutir a maternidade em prosa e verso.
O resultado foi uma Antologia incrível que já está disponível para download (aqui).
Produzida numa dinâmica coletiva, a Antologia Casa Nua traz textos de 49 escritoras de diversas partes do Brasil. Sob diferentes pontos de vista, as autoras escrevem sobre os papéis femininos de mães e filhas, das mulheres que não querem ou não podem ser mães, e ainda, sobre a mãe natureza e os aspectos políticos da maternidade.
Os textos refletem a diversidade do tema, trazendo abordagens que aludem tanto à perspectiva sensível da maternidade quanto ao seu desnudamento, revelando toda a complexidade que envolve o ser ou não ser mãe.
Estou participando com o conto “De novo”, que fala da rotina de uma mulher que é mãe de uma criança pequena.
Serão todos muito bem vindos à nossa Casa Nua!
Abaixo, um trecho do conto “De novo”, escrito por mim e publicado na coletânea “Casa Nua – maternidade devassada”.
Estava com fome, finalmente percebeu. Fernanda perdera o hábito de tomar um rico café da manhã logo ao acordar. Houve um tempo, quando Alice era bebê, que ela não conseguia nem comer, muito menos lembrar se tinha comido ou não. Quando entrou em casa, percebeu que a cafeteira estava ligada. O café ficou pronto. Preparou tapioca com manteiga, sentou-se no banquinho da cozinha e fez o desjejum ali mesmo, aproveitando os pedaços de banana que Alice deixara para trás.
A casa estava tão silenciosa, parecia imensa agora. Fernanda estava completamente sozinha. Ficaria assim até a hora do almoço, quando sairia para buscar Alice na creche, que ficava a dois quarteirões de onde moravam.
Sozinha. Silêncio. Fernanda sorriu baixinho. Há quanto tempo não tinha a casa só para si? Não se lembrava.
(De novo, de Elaine Pinto Silva)