A Cachorra

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Capa do livro “A cachorra”, de Pilar Quintana.

Recentemente, li um romance que estava de olho há tempos: A cachorra, da escritora colombiana Pilar Quintana, com tradução de Livia Deorsola e publicado pela editora Intrínseca.

Quando peguei este livro para ler não sabia exatamente o que esperar. Não conhecia a autora, mas a capa me intrigou e tinha visto algumas recomendações aqui e ali. Estava claro que havia algo mais, para além de uma mulher que adota uma cachorra. Esses elementos foram suficientes para colocá-lo na minha lista de interesses. 

Damaris, a personagem central, vive em um povoado com uma natureza bela e violenta. A solidão é sua companheira, mesmo que tenha um relacionamento com um homem, Rogelio. Certo dia, decide adotar uma cachorra. Uma decisão impulsiva, mas é a partir dela que conhecemos melhor sua rotina, seu passado, seus pensamentos e desejos. 

Durante o dia, Damaris levava a cachorra enfiada no sutiã, entre os seios macios e fartos, para mantê-la quentinha. À noite, deixava-a na caixa de papelão que seu Jaime tinha dado a ela, com uma garrafa de água quente e a camiseta usada por ela naquele dia, para que não sentisse falta de seu cheiro.

[p. 17] 

Damaris me pareceu uma mulher gentil. Mesmo que sinta os efeitos das ausências em sua vida e em violências sofridas desde a infância, ela dá atenção aos vizinhos e aos parentes. Não sei se por causa da precariedade na vida, se por causa da fúria da natureza, as pessoas são brutas e Damaris, mesmo que não pareça, engole sua brutalidade, mas a vida, bem, a vida não é nada gentil com ela. 

O cenário que Pilar nos mostra é, ao mesmo tempo, degradante e paradisíaco. Um lugar procurado por turistas e gente rica, que compra casas de veraneio no povoado e nas proximidades. Em alguns momentos, fiquei com a sensação de abandono em relação aos moradores. Talvez, de invisibilidade. Tentam se virar em uma geografia hostil: pedras, ressacas, tempestades… Algumas moradias são precárias, outras estão às ruínas. 
A narrativa é simples, uma história bruta e incrivelmente triste. Damaris é uma personagem fascinante, que nos faz querer descobrir suas motivações, a razão pela qual é levada a ir por este ou aquele caminho. A cachorra é um romance curto, muito bem escrito e fluido que nos prende até o fim.

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